Esse mito, tido como verdadeiro por 72% dos entrevistados em pesquisa realizada em 2014 pela União Brasileira de Avicultura (Atual ABPA – Associação Brasileira de Proteína Animal), surgiu a partir da descrença do consumidor de que seja possível um frango atingir 2,3Kg em 42 dias sem o auxílio de hormônios que acelerem o seu crescimento e engorda.
Em pesquisa realizada pelo COMO em 2019 junto a 70 consumidores residentes em diversas regiões do Brasil, evidenciou-se esse mesmo entendimento. As idades eram entre 21 a 67 anos, predominantemente 35 e 50 anos; 41% com renda mensal superior a 10 salários mínimos, 50% com formação superior em área biológica. O resultado final foi que 40% dos entrevistados considerou que o fator mais relevante para o incremento de crescimento dos frangos nas últimas décadas foi o uso de hormônios. Em nossa enquete no Instagram (dias 9 e 10/01), 50% responderam que sim, são usados hormônios na produção de frangos.
Mas afinal, se na época de nossas avós um frango levaria 3 vezes esse tempo para atingir esse peso, como isso é possível? Na realidade, este crescimento se deve à seleção genética e aprimoramento em nutrição e sanidade.
Vejam na foto abaixo o comparativo da conformação de aves da década de 50 e dos dias atuais. Observe os pintinhos recém nascidos, veja como os de 2005 já nascem maiores, 10g a mais que o de 1957, com um peito mais desenvolvido. Isto é reflexo de seleção genética para uma maior conformação, pois nesta idade não há como terem recebido hormônio A rapidez de crescimento também é reflexo de seleção genética.
(Fonte: Zuidhof et al., 2014)
Mas por que não vimos essa evolução genética tão rápida em outros animais de produção, como bovinos ou suínos? O questão é que uma ave, em 1 ano, produz 120 pintinhos, ao passo que um bovino produz 1 bezerro e uma porca produz 40 leitões. Considerando ainda o ciclo de vida de um frango muito mais rápido que o dessas outras espécies, isto permite uma velocidade de seleção genética muito maior.
O frango fruto dessa seleção genética tem uma demanda por melhor nutrição e cuidados com doenças e com o ambiente onde vive. Os aspectos de nutrição, sanidade e ambiência foram muito estudados e desenvolvidos nessas últimas décadas, de forma que o tripé genética-nutrição-sanidade (desenvolvimento de antibióticos e anti-parasitários) é o verdadeiro responsável por esse crescimento rápido e uma conformação maior do corpo da ave.
Além do desenvolvimento específico do frango, a legislação brasileira proíbe o uso de hormônios para a promoção de crescimento de animais de corte. Segundo o Ministério da Agricultura brasileiro, através das instruções normativas IN 10/2001 e IN17/2004, é proibida a importação, produção, comercialização e uso de substâncias naturais ou artificiais com atividade anabolizante para fins de crescimento e ganho de peso em bovinos de corte e aves.
Em 2019, o Brasil foi o segundo maior produtor mundial de carne de frango e o primeiro exportador. Produzimos, segundo a ABPA, 13.245 milhões de toneladas de carne de frango, e exportamos 32% deste volume. Os importadores desta carne são rigorosos em suas exigências e análises da qualidade da carne, que não pode ter resíduos de antibióticos ou hormônios. Portanto, o uso de hormônios colocaria em risco um volume muito grande de produtos a serem exportados.
Além disso, sendo os hormônios substâncias proteicas, eles seriam digeridos e perderiam seu efeito caso fossem fornecidos na ração das aves, precisando ser injetados. Isto representaria custos de trabalho e mão de obra imensos que não se pagariam, além disto, sendo abatidos aos 42 dias, essas aves não têm tempo de externar os estímulos induzidos pelos hormônios.
O uso da expressão “promotores de crescimento” pode induzir o consumidor a pensar no uso de hormônios, mas na verdade as substâncias que recebem esse nome são antibióticos. Eles são utilizados em dosagens bem baixas, para manter a flora intestinal livre de bactérias patogênicas e assim melhorar o desenvolvimento dos animais.
Sobre o uso de antibióticos na criação animal falaremos em breve, em nova postagem.
Por ora, fiquem tranquilos, pois os frangos não recebem hormônios durante o seu processo de criação nas granjas. Nós do COMO temos o compromisso de divulgar informações e dados científicos de forma isenta e sem vínculos políticos ou econômicos com quaisquer setores da produção de alimentos.